Em sua última aula, o professor Goyano (Linguagem e Argumentação Jurídica) citou o escritor português Bocage como um excelente sonetista. Para quem não o conhece, Manuel Maria Barbosa du Bocage é mais lembrado pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a ele não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.
Bocage foi também poeta, em cuja obra destacaram-se os sonetos, com ou sem mote, e nos quais deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada. Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boêmia que acabou por o conduzir à prisão.
Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;
Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;
O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;
Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.
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